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Carta aberta aos bispos portugueses já é viral: “Sabem e não merecem o perdão!”

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Carta aberta aos bispos portugueses já é viral: “Sabem e não merecem o perdão!”

Na sequência da comissão independente que revelou os números chocantes de abusos sexuais na Igreja portuguesa, os bispos estiveram reunidos em Fátima e o resultado da reunião está a revoltar muitas vozes. Mesmo a de crentes, que não conseguem acreditar no que ouviram da conferência de imprensa, liderada pelo Cardeal Patriarca Manuel Clemente.

Quem também se insurge com palavras, como sempre, certeiras, é Luís Osório. O jornalista escreveu uma carta aberta sobre este assunto e mostra-se horrorizado pela forma como a Igreja portuguesa está a desvalorizar os crimes hediondos que têm sido perpetuados por anos, às custas da fé.

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Fique com o ‘Postal do Dia’ de Luís Osório:

“Os bispos portugueses que não devem acreditar em Deus

1.

Na passada sexta-feira os bispos portugueses estiveram reunidos em Fátima. E no final da sua reunião comunicaram ao país e ao mundo o que pensavam do relatório da comissão independente e dos abusos e abusadores.

Deixei passar o fim-de-semana para pensar sobre o assunto. Para que este postal não fosse uma soma de indignações pois, como me costumava dizer um amigo, a “indignação não passa de um espasmo da inteligência”.

Mas é difícil entender.

Pelo contexto, pelo que está em causa para o futuro, pelo respeito pelas vítimas e pelo que o Papa Francisco foi pedindo.

É que foi tudo tão mau.

Tudo tão medíocre.

Tudo tão perverso que…

… muito sinceramente…

Não sei por onde começar.

2.

Pelo menos importante, talvez.

Pelo que não tem importância alguma.

A conferência de imprensa feita pelos bispos portugueses foi de um amadorismo a toda a prova, não é possível que num tema como este, com o país pendente sobre a comunicação da hierarquia da Igreja Católica, tudo tenha sido tão mal-organizado.

Mas isto não tem importância alguma em comparação com o que ouvimos.

Foi revoltante o que ouvimos.

Como é revoltante ouvir o Cardeal Patriarca, Manuel Clemente. Imaginar que aquele homem era o mesmo que tantos achavam ser aberto ao mundo e ao futuro, culto e respeitador da diversidade, imaginar que um dia alguém o definiu como um reformista, quase revolta as entranhas.

A conclusão que aqueles senhores tiraram é que a comissão independente apenas entregou uma soma de nomes. Mas o que eles desejavam que a comissão fizesse?

Se a cúpula da Igreja Católica, perante uma pressão pública como esta, reage assim, o que faria se não existisse pressão pública? Sabemos todos a resposta – fariam exatamente o que a Igreja fez ao longo da sua história, tudo ficaria no limbo, tudo seria escondido.

3.

Mas o que me chocou mais do que tudo o resto, foi o modo como aqueles senhores, bispos reunidos em Fátima, não tiveram um assomo de preocupação, de empatia, uma mínima comoção com os abusados.

Milhares de pessoas viram as suas vidas destruídas por padres e daqueles senhores não houve um lacrimejar, uns olhos mais brilhantes, uma palavra que acreditássemos realmente ser verdadeira de conforto, de um abraço solidário, de uma pulsão afetiva pelos que sofreram.

Nada.

Como é possível?

Vemos a conferência de imprensa da comissão independente, com figuras respeitáveis da nossa comunidade, e ao contrário dos sacerdotes, não houve um único elemento que não se tivesse comovido com os relatos, com a memórias das entrevistas, com as vidas despedaçadas, com as crianças que viram a sua infância rebentada por miseráveis que falavam em nome de Deus para que as crianças deixassem que eles se servissem.

Como é possível que não haja uma comoção?

4.

Acredito em Deus.

Acredito numa ideia de transcendência.

Tenho colaborado com várias pessoas da Igreja, nomeadamente com os Jesuítas, no que me é solicitado e faço-o sempre com gosto.

Não sou um religioso, mas não estou fora da religião.

Mas isto é tão difícil de entender.

Quem é esta gente que chega ao topo da Igreja em Portugal?

Acreditam em Deus?

Acreditam mesmo em Deus?

Acho sinceramente que não.

Acho que muitos deles não acreditam em nada.

Só no poder, seja isso o que for.

Só no que julgam ser a preservação do seu poder, do poder da Igreja que imaginam ser a que melhor serve os interesses do Deus que dizem defender.

5.

Saberiam reconhecer Jesus se o vissem?

O que lhe diriam sobre o relatório?

Sobre os padres acusados que continuam no ativo?

Sobre as descrições dentro de confessionários, utilizando o nome de Deus para tocar em pilinhas e pipis de crianças indefesas?

São só nomes?

Temos que ver?

A Santa Sé é que decide?

A questão da indemnização nem se coloca?

Difícil ter palavras para o inominável.

Sinceramente é difícil acreditar que ouvimos o que ouvimos.

Por favor senhor, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem.

Ou então sabem e não merecem perdão”.

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